A estreia do Brasil na Liga das Nações de Vôlei Feminino 2025, realizada no icônico Maracanãzinho, trouxe muito mais do que uma vitória tranquila sobre a República Tcheca. Trouxe uma mensagem clara: a Seleção está em transição, e essa nova geração não pretende apenas aprender com o passado, mas escrever seu próprio futuro.
Sem contar com nomes consolidados como Gabriela Guimarães, a “Gabi”, e Rosamaria, o Brasil apresentou uma formação jovem, mas longe de ser inexperiente. Ana Cristina e Julia Bergmann assumiram o protagonismo ofensivo com naturalidade, enquanto Macris, veterana da posição, conduziu o time com a mesma elegância e inteligência tática que a consagrou nas últimas temporadas.
A ausência das veteranas: estratégia ou necessidade?
Gabi, a principal atacante brasileira nos últimos ciclos, não esteve presente na abertura da VNL. Rosamaria, uma das jogadoras mais versáteis do elenco, também não figurou na lista. Ao invés de apostar em nomes com histórico e experiência, a comissão técnica liderada por José Roberto Guimarães optou por preservar algumas atletas, possivelmente para dosar o desgaste antes dos Jogos Olímpicos de Paris.
Mas também é possível enxergar uma estratégia de renovação programada, forçada pelas exigências de um novo vôlei mundial cada vez mais físico e veloz. Como diz um velho clichê, não se troca o motor de um carro em movimento. Mas talvez, no caso da Seleção, seja exatamente essa a intenção.
Ana Cristina: a nova estrela do ataque brasileiro
Ana Cristina, com apenas 20 anos, foi a maior pontuadora da partida contra a República Tcheca. Foram 16 pontos com muita agressividade no ataque, segurança no saque e presença na rede. Após temporadas na Turquia, a ponteira parece mais madura, com tomada de decisão aprimorada e maior consistência no fundo de quadra.
Não é exagero dizer que Ana Cristina pode ser o rosto da Seleção nos próximos anos. Sua atuação na estreia da VNL 2025 reforça não apenas sua qualidade individual, mas sua capacidade de liderar ofensivamente mesmo diante da ausência de jogadoras mais experientes.
Julia Bergmann: regularidade e presença em quadra
Outra confirmação foi Julia Bergmann. Atualmente no vôlei turco, a ponteira mostrou segurança na recepção, leitura de jogo e boas variações de ataque. Seu estilo mais técnico complementa o poderio físico de Ana Cristina, criando uma dupla promissora nas pontas.
Julia também é um nome que precisa de tempo em quadra. A VNL se torna então uma vitrine e, ao mesmo tempo, um campo de testes para consolidar seu papel na formação ideal rumo a Los Angeles 2028.
Macris: o elo entre as gerações
Macris assumiu a braçadeira de capitã com naturalidade. Após anos de atuação em alto nível, a levantadora alia consistência técnica e serenidade emocional. Sua leitura de bloqueio adversário e a capacidade de acelerar o jogo com passes precisos mantêm o padrão técnico elevado, mesmo com uma formação mais jovem ao redor.
Mais do que distribuir bolas, Macris distribui confiança. Sua presença em quadra parece ancorar o time, facilitando a transição de novas jogadoras e reforçando a identidade tática brasileira, conhecida pelo jogo rápido e coletivo.
Uma transição bem conduzida?
Historicamente, o vôlei brasileiro sofre em momentos de transição. Após os áureos tempos de Sheilla, Fabi, Thaisa e cia., houve dificuldades em estabelecer uma nova liderança. Agora, com uma base jovem e um ciclo olímpico em curso, a VNL surge como um termômetro crucial.
O desempenho contra a República Tcheca foi encorajador, mas testes mais duros virão: Estados Unidos, Itália, Turquia e China são adversários com mais profundidade e ritmo de jogo.
Rumo ao título inédito?
Vale lembrar que o Brasil nunca venceu a VNL, apesar de ter alcançado três vices. A ausência de títulos não diminui a tradição brasileira, mas a pressão por resultados é real. Um bom desempenho na VNL 2025 pode consolidar a formação ideal para Paris e, por que não, encerrar o tabu.
Considerações finais
A nova Seleção é, acima de tudo, uma equipe em construção. O talento é inegável, mas ainda há questões táticas e psicológicas a serem ajustadas. A ausência de Gabi e Rosamaria traz desafios, mas também oportunidades. Se a transição for bem conduzida, este time pode surpreender.
A Liga das Nações 2025, portanto, não é apenas uma competição. É um ensaio geral para Los Angeles. E, como mostrou a estreia, esse novo elenco está disposto a roubar a cena.